sexta-feira, 16 de abril de 2010

Diabruras


Vênus apareceu, certa manhã, na cidade de Siena. Foi encontrada deitada, nua, ao sol.
A cidade rendeu honras a essa deusa de mármore, enterrada em tempos do império romano, que havia tido a gentileza de surgir do fundo da terra.
Foi oferecida a ela, como residência, a cabeceira da principal fonte.
Ninguém se cansava de vê-la, todos queriam tocá-la.
Mas pouco depois chegaram a guerra e seus espantos, e Siena foi atacada e saqueada. E na sua sessão do dia 7 de novembro de 1357, o Conselho Municipal decidiu que a culpa era de Vênus. Por castigo pelo pecado de idolatria, Deus tinha mandado aquela desgraça. E o Conselho mandou destroçar Vênus, que convidava à luxúria, e determinou que seus pedacinhos fossem enterrados na odiada cidade de Florença.
Em Florença, cento e trinta anos depois, outra Vênus nasceu, da mão de Sandro Botticelli. O artista pintou-a enquanto ela brotava da espuma, sem outra roupa que a pele.
E uma década mais tarde, qunado o monge Savonarola ergueu sua grande fogueira, dizem que Boticelli, arrependido dos pecados de seus pincéis, alimentou as chamas com algumas diabruras pintadas em seus anos juvenis. Com Vênus, não conseguiu.

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